Fernando Henrique Ferreira tem 28 anos, é professor de Filosofia e Sociologia, budista desde a infância e é um homem negro
Fernando com suas colegas professoras
O professor em ação: ser uma voz de referência para jovens negros
Fernando: um jovem negro que busca um ideal digno às futuras gerações
Para compreender em profundidade o que vive uma pessoa preta no Brasil em seu dia a dia, é fundamental entender o que é o Racismo Estrutural. Último país do continente americano a abolir a escravidão, nesses 500 e tantos anos de história, apenas 134 deles foram vividos pós Lei Áurea. Ou seja: há muito preconceito ainda arraigado, entremeado no cotidiano de forma completamente estruturada. Potiguar de Caicó-RN, militante de movimentos sociais que visam combater o racismo estrutural, Fernando se coloca como um budista convicto e militante. Isso por que acredita que “o Humanismo Soka é uma luz que pode iluminar a sociedade para determinadas questões”.
O budismo entrou em sua vida pelas mãos de sua mãe, nos anos 2000, devido a um grave problema de saúde que a acometia. O garoto Fernando Henrique – sim, seu nome é uma homenagem ao ex-presidente – logo se afeiçoou às “tias” da Gakkai que sempre cuidaram dele nos encontros, com muito carinho e consideração. Portanto foi natural desejar fazer parte de tudo aquilo de forma mais efetiva. Graduou-se em Filosofia e já leciona há 8 anos, desde que estava no último ano do Ensino Médio. Além da escola pública, também ministra aulas em escola particular e numa universidade católica, no curso de Direito.
Mas, desde a infância, via na sociedade o retrato de uma nação racista. “Desde a Lei Áurea não houve nenhuma política pública efetiva de reparação, visando minimizar a discriminação”, explicou Fernando. Porém, ele enfatizou: “embora eu participe de diversos movimentos sociais, sempre busco olhar a dignidade da vida acima de tudo. Então busco dialogar com os diversos agentes de forma a promover a reflexão, como meu mestre Daisaku Ikeda me ensinou”.
"Consciência Humana"
Fernando, inclusive, defende a troca da expressão “Consciência Negra”, por “Consciência Humana”. Isso porque não deveria haver uma separação, pois todos somos parte de uma mesma família Humana. Mas concorda que a expressão deve ainda existir para que haja uma exaltação à beleza e à riqueza da cultura preta em todas as suas manifestações. Há muito o que ser feito ainda. Exemplifica a palavra “denegrir” que têm raiz no racismo estrutural e é um termo comumente utilizado e que quase ninguém se dá conta. “O racismo se estrutura na política, no Direito, na economia, ou seja: na cultura em geral. Conscientizar-se disso é parte do aprendizado de civilidade”, completou.
Por ter se criado “nos jardins da Soka Gakkai”, o budismo é parte integrante de sua vida em todos os aspectos. Desde a carreira docente que, segundo ele, “não estava nos planos”. Foi convivendo com os ideais humanistas que o magistério foi se delineando em sua mente. Segundo ele, sua trajetória é fruto de uma educação pública de qualidade, mérito de alguns bons e abnegados professores. “Hoje estou onde queria estar. Aos 28 anos! Muitos de meus companheiros de infância não chegaram nem à metade de sua trajetória, eu atribuo esse feito à minha consciência de Buda, à minha ancestralidade e ao meu mestre budista”, contou Fernando.
Ousado e atrevido, aprendeu a se impor em meio a uma sociedade notadamente racista e que subestima as pessoas pretas, desvalorizando-as e buscando a todo momento subestimá-las, reflexo de um sistema de valores extremamente retrógrado e enraizado nas profundezas conservadoras da sociedade brasileira.
Sua militância no movimento humanista da BSGI não passou despercebida e, em 2017, ele foi um dos 200 jovens brasileiros escolhidos para participar do histórico Treinamento da SGI #SomosTodos200, no Japão. Pouca gente sabe do tamanho do desafio que enfrentou naquela ocasião. Determinou que, como preparo para a viagem – honrar a oportunidade única – visitaria 50 pessoas budistas por mês, de localidades em todo o estado do Rio Grande do Norte. Movimento a BSGI de todo o estado com suas ações e orações. E, poucos dias antes do embarque ao Japão seu pai foi assassinado. “Eu não esmoreci e renovei a decisão de ir. E foi maravilhoso!”, contou.
Fernando decidiu ‘vingar’ a morte de seu pai se tornando uma pessoa digna, o melhor ser humano possível. Se pautar somente por políticas públicas voltadas ao humanismo, contra todas as formas de discriminação, seja de gênero, raça, religião.
Dessa forma, é constantemente convidado a falar em rádio; numa dessas, discorreu sobre uma das proposta de paz anuais de Daisaku Ikeda. “Eu não cresci com uma referência de jovem negro. Eu quero ser essa referência, uma voz para a juventude de meu estado. Sou um homem preto, gay, budista que defende, acima de tudo, a dignidade da vida!”, concluiu Fernando.
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