03 de June de 2022

Filhos do coração compartilham suas experiências únicas

A adoção é um ato de amor incondicional e uma forma de demonstrar ao mundo que há caminhos alternativos possíveis!

Raphael e seu pai Antonio (esq.) e Aline e seu marido Thiago

No dia do casamento (da esq. p/ dir.): os irmãos José Luiz, Maurício Renato, Aline e seu marido Thiago, a irmã Socorro e o irmão

Raphael e sua grande família feliz: pais, irmãos e sobrinhos

Já abordamos aqui o tema da Adoção, trazendo o relato de pais que decidiram dividir seus corações com crianças sem lar. Para esta pauta trouxemos a visão dos que receberam a adoção em lares budistas e de como esse ato impactou suas vidas de forma impressionante.


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“Fui adotada aos 6 meses de idade, minha mãe adotiva resolveu ajudar uma colega de trabalho que estava passando por dificuldades financeiras, e assim começou a nossa história”, iniciou Aline Renata Vasconcelos Passarella. Tudo começou quando sua mãe do coração teve uma “conversa de boca” com uma amiga e decidiu criar a bebê Aline, já com filhos adolescentes, três garotos (José Luiz, Maurício Renato e Paulo César) e uma garota (Socorro), a mais velha da prole.


Foi uma verdadeira comoção, com certeza, pois um bebê de seis meses em meio a quatro adolescentes causou uma mudança significativa na rotina da família. Uma grande mulher foi Eunice, mãe de Aline, sempre dedicada à família, cuidando, decidindo e guiando a todos. Precisava ser assim, pois Luiz, seu pai, tinha problemas com o álcool e tal fato contribuía significativamente para a desarmonia familiar.


A constante busca por respostas levou esta mãe às atividades da BSGI. Essa foi a grande missão de Eunice: levar sua família ao encontro da filosofia humanística do budismo Nichiren. “Pouco depois que completei 2 anos, minha mãe adotiva faleceu, devido a um câncer nos ossos”, contou Aline.


Desse momento em diante sua criação e dos demais irmãos, passou a ser encargo de sua irmã mais velha, Socorro e de seu pai que, nessa altura, já havia deixado o álcool. Nunca se sentiu discriminada devido ao fato de ter sido adotada. “A palavra ADOTADA sempre foi dita em nossa casa, mesmo que eu não a compreendesse, sabia que era irmã de coração”. Aline diz se recordar de cenas com os irmãos em que pessoas perguntavam sobre ela, questionando quanto a ausência de semelhança entre eles e todos apenas respondiam que “é nossa irmã caçula!”, sem hesitação ou constrangimento.


Aline fez questão de ressaltar sua boa sorte de ter sido criada nos ‘jardins’ da Soka Gakkai, onde dezenas de ‘mães’ Soka se revezaram nos incentivos, orientações e condução, visando o seu desenvolvimento.


Devido o acolhimento sempre afetuoso e carinhoso de todos, Aline cresceu sem se sentir diferente por ser adotada. Embora a irmã, Socorro, tenha feito às vezes de sua mãe, sempre se posicionou como irmã. “Mesmo sabendo que era adotada, me sentia feliz e isso bastou para que eu aceitasse aquela família como minha e criasse um senso de pertencimento, fazendo com que eu não questionasse a minha existência ou quisesse conhecer minha família de origem”, explicou Aline.


Perguntada sobre o bullying, disse ter sido alvo disso por diversas questões, nenhuma relacionada ao fato de ter sido adotada. Teve apoio e compreensão no Ensino Médio e, como aprendeu na BSGI, cultivou bons amigos que a ajudaram nos momentos difíceis.


Após o falecimento da mãe Eunice, os irmãos se reuniram para assumir as responsabilidades, mas quem tomou as rédeas da casa, foi Socorro, a mais velha. Ela foi fundamental no ingresso de Aline no grupo feminino musical, Asas da Paz Kotekitai do Brasil. A sábia irmã insistiu que ela tentasse ingressar no grupo, mesmo sabendo que a preferência da caçula era tocar violino na Orquestra. “Entrei na Kotekitai ainda menina e vivi momentos gloriosos que forjaram o meu caráter e a minha juventude!”, ressaltou Aline. Segundo ela, encontrou no grupo grandes amigas-irmãs que fazem parte de todos os momentos da sua vida, co mo a superação do falecimento do pai, vários desfiles marcantes com o grupo a ponto de desafiar tudo e conquistar a vida que desejou.


Aline fez questão de ressaltar que ela só conseguiu se manter focada no caminho da filosofia do budismo Nichiren e no caminho correto da vida por causa de sua irmã Socorro, sua guia de todas as horas, que além de irmã assumiu o papel de mãe. “Ser adotada para mim hoje é carregar uma grande cicatriz. É entender que tenho alguns medos e que está tudo bem não ser forte o tempo todo, é lutar para ser aceita para a pessoa que mais importa, a mim mesma. É aceitar que em cada fase da vida irei me descobrir e me acolher, sem julgamentos apenas aceitando e compreendendo minhas fraquezas, é fazer da minha dor pelo abandono sofrido, a minha maior motivação para agradecer e vencer a mim mesma. Afinal, se não fosse adotada, não teria ganhado o melhor presente da minha vida até aqui a MINHA GRANDE FAMILIA”, concluiu Aline.


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A segunda história que trazemos tem um foco diferente, mas com o mesmo desfecho humanístico. “Meu pai [adotivo], Sr. Antônio Ribeiro Araujo, natural da Bahia, veio para São Paulo em busca de emprego, casou-se com uma jovem conterrânea e tiveram 5 filhos”, iniciou Raphael da Silva Araújo. Esta união não durou muito mais e a separação ocorreu algum tempo depois. Antônio e a mulher que viria a ser sua mãe adotiva, Suely Chinchio da Silva Araujo, se conheceram numa atividade da BSGI, se apaixonaram e casaram algum tempo depois.


Suely, apaixonada por crianças sempre acalentou em seu coração o desejo da maternidade. Mas não conseguia engravidar. Foi então que a ideia da adoção chegou e se instalou.


O sonho se fez realidade com a chegada da primeira filha do coração. Mas o desejo por engravidar foi mais forte e o casal decidiu se submeter à fertilização in vitro. O primeiro filho biológico de Suely e Antonio chegou e, para surpresa de ambos, na sequência viria mais um. “Já se somavam 5 filhos da parte do meu pai mais 3 filhos do segundo casamento, além de uma filha fruto de um relacionamento no intervalo entre os dois casamentos”, enumerou Raphael.


Desde então, gradativamente, o casal adotou mais 9 crianças, sendo Raphael o último dessa imensa prole. “No coração da minha mãe, o amor por crianças fazia com que ela acolhesse cada uma delas como se fossem suas”, ressaltou Raphael. E, segundo ele, seu pai se tornou o guardião dessa imensa família, protegendo cada filho que adentrasse à porta. Foi dessa forma que, ambos concluíram suas nobres existências: ela em 2016 e ele em 2021, deixando um total de 18 filhos, 35 netos e 13 bisnetos, todos vivos.


A história da adoção de cada criança se assemelha, portanto, a narrativa de Raphael representará, em essência, a de todos os demais. Suely cuidava de suas crianças em casa e toda a vizinhança era conhecedora do fato. Quando alguém precisava de uma cuidadora eventual, recorria à Suely. Foi assim que a mãe biológica de Raphael buscou os cuidados de sua vizinha. Disse que precisava trabalhar para cuidar do sustento de seu bebê de somente alguns dias de vida.


Era uma noite chuvosa quando mãe e filho acorreram ao portão de Suely, que prontamente recebeu aquele pequeno. Diferente do combinado, a mãe biológica de Raphael não mais retornou. Dessa forma, o casal deu entrada no processo de tutela e guarda provisória, se tornando algum tempo depois, em pais adotivos legais. Mas não foi um processo fácil, durou quase 2 anos para sair a guarda definitiva e Raphael ser oficialmente registrado. “Tem um fato muito marcante que, sendo eu o último filho adotivo e meus pais sem condições financeiras para criar mais um, para que houvesse liberação de adoção o Conselho Tutelar entrevistou praticamente toda a família e quase barraram o processo, pois já haviam muitas crianças na casa. Mas, como não há oração sem resposta, meus pais conseguiram adotar, registrar e criar todos os filhos”, completou.


O bebê Raphael de poucos dias apenas, chegou à casa dessa família em precárias condições de saúde. Segundo relataram seus pais, o corpo estava coberto de feridas e exalava mau cheiro. Constataram depois que tinha também refluxo e sopro no coração. Devido a saúde frágil, foi acometido por cinco pneumonias e antes dos 10 anos já havia sido submetido a duas cirurgias.


Com tantas crianças, o maior desafio era o financeiro, sempre escasso. Somente o pai trabalhava fora e oferecer sustento a todo esse povo era um grande quebra-cabeças. A dedicação à prática budista foi o grande diferencial. Onde faltava dinheiro, não faltava fé e amor. “Havia dificuldades, mas tenho lembranças, ainda criança, da casa cheia de irmãos, era uma diversão! Brincávamos bastante e sempre recebíamos o mesmo carinho e amor dos nossos pais, assim como os demais filhos biológicos. Nunca nossos pais nos trataram com diferenças pelo fato de sermos adotados”, salientou Raphael.


Ele contou que, embora não fosse possível aos seus pais proporcionarem passeios, grandes festas, ou presentes, nunca faltou afeto e, na sua visão, aprendizados realmente úteis, como os valores da vida e harmonia familiar. Embora tenha havido muitos momentos desafiadores, alguns dos filhos se desviaram do caminho ensinado, outros colocaram em prática todo ensinamento e educação recebidos em casa.


Raphael é parte dos filhos que colocou em prática os ensinamentos dos pais e se dedicou aos estudos e às atividades da BSGI. É hoje um engenheiro pós-graduado e há 15 anos, atua numa fábrica, num setor estratégico para o crescimento da empresa. Casou-se com Thuany, também budista e é pai da princesa Antonella. “Tive a honra de poder herdar o budismo Nichiren dos meus pais e me esforço diariamente para corresponder a tamanha responsabilidade. A prática do budismo, as orientações do mestre, dr. Daisaku Ikeda e a convivência na Soka Gakkai, me ensinaram ao longo dos 31 anos de vida que, mesmo quando ventos contrários surgem, ainda assim, posso manifestar gratidão pelos acontecimentos indesejáveis e que são, muitas vezes, essenciais para meu crescimento. Sou grato do fundo do coração pelos meus pais, que tiveram a coragem e a compaixão de me acolher”, finalizou Raphael.

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