15 de June de 2022

Sabedoria, coragem e compaixão

De como a educação Soka é colocado em prática em escolas e universidades do mundo

Sob o título Operacionalizando a Educação de Criação de Valor para a Cidadania Global em Meios Internacionais, o pesquisador e aluno formado pelo Colégio Soka do Brasil, Luiz Garcia, produziu um estudo de caso que sobre como a pedagogia de criação de valores da Soka Gakkai vem impactando a vida de centenas de crianças e jovens em todo o mundo, criando espaço para a formação de verdadeiros cidadãos globais.


O presidente da SGI, dr. Daisaku Ikeda fundou as escolas Soka no Japão nos anos 60 e hoje o sistema educacional Soka inclui escolas do jardim de infância à universidade. Há nos EUA, uma universidade, desde 2001; e escolas de Educação Infantil em Hong Kong, Malásia, Cingapura e Coréia do Sul. No Brasil, o Colégio Soka do Brasil iniciou suas atividades em 2001, e hoje abrangem, como no Japão, a formação básica completa, do Infantil ao Ensino Médio.


O artigo inicia enfatizando a crença do educador e fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi de que o foco central da educação deve ser a felicidade ao longo da vida do aluno. A partir disso, o desenvolvimento da personalidade única de cada criança e sua ênfase na importância de levar uma vida socialmente contributiva descrevem o ethos subjacente da Soka Education. O artigo de Luiz Garcia concentra-se na Educação Soka e como ela está conectada aos valores de Cidadania Global definidos pelo fundador Daisaku Ikeda em 1996 em 'Reflexões sobre Educação para a Cidadania Global'


A primeira parte do texto aborda o ambiente de aprendizagem do Colégio Soka do Brasil na sua perspectiva, de ex-aluno. A segunda parte traz memórias das atividades de jardinagem e a última mostra como essas atividades estão conectadas com os três valores que Ikeda define como cidadania global: sabedoria, coragem e compaixão.


Como já foi apontado, fora do Japão, o Brasil é o único país em que existe todo o sistema escolar - do Infantil ao Ensino Médio. Luiz iniciou sua vida escolar quando da fundação da escola, aos 6 anos. O lema: “onde a criança é feliz enquanto estuda”, foi a primeira coisa que lhe chamou a atenção, desenvolvendo na criança um profundo interesse em estudar lá. Foi quando seu pai o levou ao prédio e perguntou se ele queria estudar ali. Sem hesitar respondeu que sim.


Luiz ingressou na escola em 2002, fazendo parte da primeira turma do Ensino Fundamental. “Dos portões da escola às salas de aula, a relação entre todos era baseada na sinceridade e no profundo respeito e preocupação com cada pessoa”, descreveu Luiz. Ele ressalta que o aprendizado acontecia simultaneamente, desde a entrada até a saída. Cada pessoa que ali estava era munido de um profundo comprometimento com a educação dos estudantes. Funcionários, administração, limpeza, merenda, cada qual era o elo de uma corrente humanística pedagógica cujo propósito era proporcionar o melhor ambiente possível para que a magia do aprendizado acontecesse naturalmente.


“O objetivo final dessa relação é permitir que o aluno vá além do educador. Nesse sentido, os professores costumavam estimular as crianças a valorizar a beleza de suas individualidades, ou seja, a descobrir nosso potencial interior”, explicou. Isso se baseia na diretriz apontada pelo dr. Ikeda: “A educação Soka é baseada em uma profunda filosofia educacional de confiança e respeito por todos os seres humanos, enraizada na convicção de que todas as pessoas possuem inerentemente a sabedoria para criar valor supremo e que o objetivo da educação é abrir a porta para isso. sabedoria, revelá-la e despertar as pessoas para ela, capacitando-as a incorporá-la em suas vidas”.


Dessa forma, Luiz foi constantemente encorajado a sonhar alto, a se esforçar para aprender idiomas, fazer amigos além das fronteiras e se tornar um cidadão global que pudesse contribuir para a felicidade dos outros. Mesmo desconhecendo o significado de tudo isso – especialmente o que era um ‘cidadão global’, essa orientação foi um ponto de virada sua vida.


Em 1996, muito antes do mundo comentar ou se dar conta do termo Cidadania Global, Ikeda proferiu a célebre palestra denominada Educação para a Cidadania Global, na faculdade de Educação da Universidade de Colúmbia. Ficou célebre porque educadores de todo o mundo passaram a utilizá-la como referência sobre o tema. Para Ikeda, essa ideia não implica habilidades linguísticas ou viagens, mas sim uma capacidade de se preocupar verdadeiramente com a paz e a prosperidade do mundo. Em sua palestra, Ikeda compartilhou quais valores melhor definem o conceito de cidadania global:



Foi por meio de uma atividade didático-pedagógica aparentemente simples – a jardinagem – que a pedagogia Soka foi sendo introduzida na vida dos jovens estudantes como Luiz. Ao longo das atividades de jardinagem, os alunos têm a oportunidade de compreender a relação entre si e seu ambiente observando o crescimento das hortaliças. Na verdade, as crianças são encorajadas a dizer palavras gentis completamente. “Eu argumentaria que isso está ligado ao primeiro valor, ou a ‘sabedoria para perceber a interconexão de toda a vida e vida’”.


A partir da vivência de cuidar de um canteiro de hortaliças está se ensinando o ciclo da vida. “Cada pequena semente contêm os frutos e flores da planta. Assim como elas, você começou como uma pequena vida dentro do corpo de sua mãe, onde sua cabeça, mãos e pés E então você nasceu, ainda pequeno, e sua mãe e seu pai cuidaram de você”, dizia seu professor. Cuidando das sementes aprendem que estas precisam de água, luz e calor do sol, para florescer e crescer. Entendem sobre a necessidade de cuidar e respeitar a dignidade da vida de cada ser.


Também aprendem sobre o princípio básico do budismo que é a causa e efeito, a Lei de Ação e Reação da Física. Compreendem que toda ação como pensamentos e palavras ditas criam efeitos positivos ou negativos na vida dos indivíduos. “Quando um aluno finalmente pode colher os vegetais que plantou, cera comum ouvir: ‘Fui eu que plantei!’, no tom de voz havia sempre um mosto de orgulho pela conquista”, contou Luiz. Os alunos viam a parte da colheita como uma vitória, fruto de seu empenho e esforço, e eram constantemente parabenizados pelos professores.


Para ter sucesso nessa atividade é necessário um bom preparo do solo. Os alunos foram estimulados a refletir sobre o que as sementes e as plantas necessárias para crescer. Se uma planta não sobrevive, culpamos a planta ou seu ambiente? Se uma hortaliça apresenta dificuldades de crescimento ou não sobrevive, podemos sim questionar o que faltou no ambiente em que foi plantada. Faltou água, nutrientes ou luz solar? “Não víamos a planta como um problema em si nem a culpávamos por não crescer ou se desenvolver. Na sociedade, quando um cidadão não consegue um emprego, uma oportunidade acadêmica ou não atende às expectativas, as pessoas tendem a buscar a inadimplência dessa pessoa”, argumentou.


A pedagogia Soka que lhe foi fornecida, incutiu-lhe valores outros, diferentes dos encontrados na sociedade atual em que se julga as falhas dos indivíduos, imputando-lhes culpa ou incompetência, quando na verdade é a própria sociedade que vem falhando miseravelmente como cada um deles. Esta reflexão vai ao encontro do segundo pilar da definição de valores de cidadania global de Ikeda: “A coragem de não temer ou negar a diferença; mas respeitar e esforçar-se para compreender as pessoas de diferentes culturas e crescer a partir dos encontros com elas”. Na verdade, cada vegetal cresceu à sua maneira e no seu tempo. Alguns alunos puderam colher os vegetais que haviam plantado alguns dias antes em comparação com outros. Enquanto isso, talvez aqueles que esperavam mais tivessem maiores em suas formas. Os vegetais nasceram de formas muito diversas. Mostra como os seres vivos podem ser diversos.


O princípio budista da cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro demonstra a singularidade de cada ser e o princípio relacionado de iluminar e manifestar sua verdadeira natureza. Apesar das diversas formas, ritmos de crescimento das hortaliças, não houve absolutamente nenhuma comparação nem competição entre as crianças.


O terceiro valor da cidadania global descrito por Ikeda é “A compaixão para manter uma empatia imaginativa que vai além do entorno imediato e se estende àqueles que sofrem em lugares distantes”. Dois resultados da manifestação de compaixão nas atividades de jardinagem podem ser conectados a esse terceiro valor: o senso de responsabilidade e a sustentabilidade. Os alunos participaram de todo o processo de plantar, regar e colher as hortaliças. Regar a horta fazia parte da rotina diária e para isso um aluno por turma, em nome dos demais, era responsável por isso. Faziam-no com a maior seriedade, sempre pensando que cada um representava o outro, que estava ocupado com outros assuntos.


A ação comunitária é o ponto de partida e a base para a conscientização global, segundo Ikeda. Ele afirma ainda que: ensinar que as coisas que vestimos e usamos chegam até nós graças aos esforços de pessoas em terras distantes leva à conclusão de Makiguchi: a comunidade, em suma, é um microcosmo do mundo. Se encorajarmos as crianças a observar diretamente as complexas relações entre as pessoas e a terra, entre a natureza e a sociedade, seremos capazes de ajudá-las a compreender as realidades de suas casas, sua escola, cidade, vila ou cidade, e compreender o mundo de forma mais ampla.


Além disso, ao longo deste projeto, os alunos criaram a cultura de comer alimentos sazonais e saudáveis, explorando seus métodos e seus benefícios. Na última parte de seus comentários, publicados do romance A Nova Revolução Humana, Daisaku Ikeda cita:


Através do cultivo de vegetais, os alunos da escola aprenderam os nomes e os tipos de vegetais e que tipos de nutrição eles continham. Ao observar o crescimento dos vegetais, eles também aprenderam a medir o comprimento. Depois de colher os vegetais, eles faziam alguns alimentos, como sanduíches, e depois os comiam juntos. Os alunos reagiram a este tipo de estudo com grande curiosidade e entusiasmo. Além disso, por terem cultivado os próprios vegetais, desenvolveram uma atitude favorável ao consumo de vegetais. Eles também trouxeram para casa os vegetais que haviam cultivado para suas famílias comerem. Pela alegria que seus familiares demonstraram, as crianças aprenderam como era gratificante criar o bem para o bem dos outros. (Ikeda, 2012)


É assim que os valores de cidadania global se manifestam na pedagogia educacional das escolas Soka em todo o mundo. Por meio de uma atividade simples, mas com o propósito de iluminar o verdadeiro e inato potencial de cada aluno. Ikeda também diz: Essa educação [baseada na pedagogia da criação de valor] é uma importante oportunidade e base para promover a sabedoria para reconhecer a natureza inter-relacionada de mutualidade de todos os seres vivos, a coragem de se envolver sem medo com diferentes povos e culturas e a compaixão para empatia com o sofrimento das pessoas em outros países. “As atividades de jardinagem no Colégio Soka do Brasil parecem tão simples quanto parecem, mas do ponto de vista da filosofia educacional Soka, criou um valor de longa vida na vida das crianças. Coragem, sabedoria e compaixão se manifestam em cada aspecto da atividade. Mesmo hoje, o Colégio Soka do Brasil continua promovendo projetos que inspiram crianças e jovens a desenvolver valores de cidadania global dentro de si e a colocá-los em prática em suas atividades escolares interligadas e cotidianas”, concluiu Luiz.

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