Uma vida dedicada à Educação plena

“Qual é o propósito da vida? Se fosse para expressar isso
em apenas uma palavra teria que ser ‘felicidade’. O propósito da
educação deve, portanto, estar de acordo com o propósito da vida.”
(Tsunesaburo Makiguchi)

– A criança tem de ser feliz na escola! – essa afirmativa foi o estopim de um processo de pesquisa e observação criteriosa sobre o sistema educacional do Japão. O educador japonês Tsunesaburo Makiguchi sempre acreditou que o sucesso de qualquer empreendimento educacional tinha que partir da satisfação do educando, nunca partir somente da perspectiva do educador. Era um entusiasta de um método de educação em que o aluno é constantemente instigado e incentivado a buscar novas fontes acerca dos temas propostos, tornando assim o aprendizado um campo lúdico de descobertas, dando prazer e satisfação ao aluno.

– O objetivo da educação não é transferir conhecimento; mas orientar o processo de aprendizagem, para equipar o estudante com toda a metodologia para a pesquisa, de forma a dar-lhe condições para que produza o seu próprio conhecimento! – enfatizava o educador Tsunesaburo Makiguchi acerca dos métodos de ensino-aprendizagem da escola tradicional que se baseiam na simples memorização em vez de voltarem-se aos métodos que proporcionem ao aluno inspiração, de forma que ele adquira a paixão pela aquisição de conhecimento.

Toda a sua vida, a partir desta constatação, foi dedicada à busca pela transformação do sistema educacional japonês e da sociedade como um todo.

Nasce um educador determinado

Foi em um ambiente familiar desestruturado que nasceu o futuro educador revolucionário, em 6 de junho de 1871. Abandonado pelo pai, aos três anos e logo a seguir pela mãe, foi criado pelo tio, Zendayu Makiguchi, de quem adotou o sobrenome. Nesse período recebia periodicamente a visita da mãe, até que esta, em um momento de profundo desespero, buscou o suicídio pulando com o filho no Mar do Japão. Felizmente ambos foram resgatados, mas ao se restabelecer, desapareceu e, mãe e filho jamais voltaram a se encontrar.

Aos 15 anos mudou-se para a casa de outro tio, com quem passou a viver. A pobreza extrema não lhe permitiu prosseguir nos estudos. Mas sua índole severa e inabalável tornou-o um jovem de desempenho irrepreensível e tal característica foi notada no trabalho em uma delegacia de polícia. O chefe, impressionado com o brilhante desempenho, levou-o consigo ao transferir-se para Sapporo – região mais desenvolvida, situada na ilha de Hokkaido – e ali teve a oportunidade de matricular-se no curso de Magistério.

Logo após a formatura, aos 22 anos, em 1893, foi convidado para o cargo de professor-supervisor em uma escola de Ensino Fundamental 1. Foi onde teve seu primeiro embate com a rigidez do sistema educacional japonês. Submetido a uma disciplina férrea, cuja finalidade era a formação de educadores subservientes, deu-se conta da carência de valores humanísticos e da opressão imposta por aquele tipo de sistema. Pouco tempo depois, ao se tornar professor, buscou aplicar outro modelo educacional, baseado em sua convicção sobre a criação de valores. Mas o sistema pouco afeito a mudanças impôs-lhe outro modelo de disciplina. Em 1901, devido a um incidente associado a uma aparente ruptura disciplinar, Makiguchi foi forçado a abandonar seu cargo na escola.

Embora os anos posteriores a esse fato tenham sido marcados por muitas dificuldades financeiras, foi também um período de grande proficiência intelectual, pois resultou na publicação de seu primeiro livro, Geografia da Vida Humana [1], em que enfatiza a relação de interdependência entre o homem e a natureza. A atualidade da obra de Makiguchi reflete-se na expressão contemporânea: “pensar globalmente, agir localmente”. Um dos pontos centrais desta obra está expressa no seguinte trecho:

“o ponto inicial e natural para compreender o mundo e nossa relação com
ele é a comunidade (uma comunidade de pessoas, de terra e cultura)
que nos dá origem. É essa comunidade que nos concede a própria vida e nos
inicia no caminho para nos tornar as pessoas que somos. É ela que
nos oferece a base como seres humanos, como seres culturais.”

Após ocupar vários cargos, entre eles no Ministério da Educação, em 1913 tornou-se diretor da Escola de Ensino Fundamental Tosei, e nos vinte anos posteriores trabalhou como diretor e professor primário em outras escolas de Tóquio. Foi das observações anotadas e acumuladas durante esse período, refletindo seu pensamento e experiência, que teve origem a obra Educação para uma Vida Criativa [2], publicado por Dayle M. Bethel, pesquisador da vida e da filosofia educacional de Makiguchi.

O educador Makiguchi baseava sua filosofia educacional naquilo que chamava de “teoria da criação de valor”. O propósito da vida era a felicidade, que ele definia como sendo o estado em que a pessoa pode plenamente criar seu próprio valor.

O mestre encontra seu discípulo

Foi em meio aos anos de 1920 que conheceu o então jovem Josei Toda, de 19 anos. Também um professor, como ele um idealista e inconformado com os rumos da Educação em seu país, juntos estabeleceram quase que de imediato uma relação baseada em mútuas convicções e ideais, tornando-se inseparáveis, como mestre e discípulo.

Mais tarde, em 1928, um fato marcou indelevelmente a vida de ambos: o Budismo de Nichiren Daishonin. O diretor da escola comercial de Mejiro foi quem lhes apresentou a filosofia de vida na qual, ao se aprofundarem no estudo, encontraram a expressão última da filosofia humanista de valor por eles defendida.

Convicto de que a chave para a completa transformação da humanidade se baseava nesta filosofia, Makiguchi fundou em 1930, a Soka Kyoiku Gakkai – Sociedade Educacional para a Criação de Valores – tornando-se seu primeiro presidente. Esta organização social foi a predecessora da atual Soka Gakkai.

Paralelamente, neste mesmo ano, é publicada a obra Teoria do Sistema Educacional de Criação de Valores (Soka Kyoikugaku Taikei), sob a qual baseou todo o ideal de sua organização recém fundada. Tendo sempre ao seu lado o discípulo Toda, Makiguchi prossegue em sua luta por uma sociedade baseada em valores humanísticos, não em dogmas e sistemas rígidos e equivocados de valor.

A Segunda Guerra Mundial trouxe o conflito para dentro do país e, os principais afetados como sempre, foram os seus cidadãos. O governo militar acreditava que para vencer a guerra, precisava unificar a Nação em torno de uma crença única – o xintoísmo – cujo principal dogma era a divindade do imperador.

Por discordar veementemente desta imposição, Makiguchi, Toda, e sua organização Soka Kyoiku Gakkai, passaram a ser pressionados para que refutassem sua fé e passassem a adorar o talismã xintoísta.

Com os constantes reveses das forças japonesas no Pacífico Sul, a partir de maio de 1943, o governo militar arrocha a imposição quanto à unificação religiosa e aprisiona os dois líderes da Soka Kyoiku Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, em 6 de julho de 1943. O que ambos defendiam, no entanto, era simplesmente a liberdade – de crença, de posição ideológica – direito universal de todo ser humano.

Os maus tratos e a idade avançada finalmente cobraram seu alto preço. Após 17 meses em confinamento arbitrário e injusto, o presidente Tsunesaburo Makiguchi falece aos 73 anos, vitimado pela debilidade física causada pela desnutrição severa, no dia 18 de novembro de 1944.

Porém seu legado – o método revolucionário de ensino, mais tarde reconhecido e difundido por todo o mundo – foi preservado dignamente pelo discípulo, Josei Toda. Além desta grandiosa obra intelectual, sua principal realização, a Soka Kyoiku Gakkai, embora combalida pela feroz perseguição promovida pelo regime militarista xintoísta, retornará das cinzas triunfante pelas mãos zelosas e competentes deste seu pupilo que não medirá esforços para torná-la a maior organização filosófica leiga do Japão e, posteriormente, uma das maiores do mundo.

[1] Obra ainda inédita em português.

[2] Publicado pela editora Record.

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