28 de October de 2013

Contribuições a uma verdadeira comunicação para a paz

O professor da ECA-USP Edvaldo Pereira Lima

Abaixo, a íntegra da palestra do professor Edvaldo Pereira Lima, da ECA/USP, proferida no Seminário de Comunicação para a Paz, promovido pelo Departamento de Comunicação da BSGI, em outubro de 2013 http://www.bsgi.org.br/noticia/145/


Boa tarde! É com grande satisfação que venho aqui tratar deste tema: A Importância da Comunicação Não-Violenta para a Construção de um Mundo mais Humano. Eu quero iniciar minha fala contanto uma história, originária da mitologia egípcia. Mito e mitologia são termos que foram associados a histórias fantasiosas, fora da realidade.


Na verdade não é isso, a verdade é que a nossa cultura é que empobreceu e nós perdemos o contato com o significado real da palavra mito. Mito quer dizer história com significado profundo, e significados profundos remetem a questões importantes dentro do pensamento humano. A questões as quais em algum momento da vida, que nós queremos aproveitar da melhor maneira possível essa dádiva especial que é você existir. Então, sempre lembrando que o mito traz leituras da realidade através de símbolos, vou contar para vocês um pequeno mito que tem a ver com a história da comunicação que tem a ver com a questão da paz e da não-violência.


Este mito vem da mitologia egípcia. E na mitologia egípcia havia muitos deuses. Havia deuses de todos os tipos. No entanto o deus mais importante de todos, aquele que era o rei de todos os deuses, era Rá. Rá era o deus-sol. E o deus-sol tinha preocupações com a humanidade. Ele queria que a humanidade caminhasse bem. Porém, como deus, percebeu que era muito difícil se comunicar com os seres humanos, para os seres humanos era muito difícil entender alguém no nível de uma divindade. Então, como deus é capaz de fazer tudo, ele pensou em uma solução para resolver esse problema, essa dificuldade do contato da divindade com o ser humano. Por isso ele criou um filho que era filho do deus mais poderoso, Rá, portanto tinha também poder divino. A esse filho deu o nome de Tot. Disse ele a Tot:


– Olhe filho, você tem uma incumbência, a missão é criar uma maneira de comunicação pela qual o ser humano seja capaz de nos entender para que nós consigamos nos comunicar com eles.


Então, Tot, filho do deus principal do panteão de deuses egípcios, se transformou no secretário e intérprete dos deuses. Era capaz de entender a língua do deuses, mas ele precisava encontrar um jeito de entender a língua dos homens, porque o papel dele era fazer a conexão entre o divino e o humano. Então ele ficou pensando, imaginando como é que ele ia resolver esse problema.
– Como é que eu crio uma maneira de estabelecer contato com o ser humano? De modo que ele entenda a sua origem e entenda aquilo que vem do nível dos deuses.
Então ele pensou um pouco e resolveu inventar uma coisa chamada alfabeto. Logo em seguida ele pensou um pouquinho mais e achou que só aquilo não bastava, o que é que o ser humano vai poder fazer com o alfabeto, pensou um pouquinho mais e inventou uma coisa chamada escrita.


Na seqüência ele disse:


– Bom, agora temos o alfabeto e temos a escrita. Mas o que mais podemos fazer para completar essa possibilidade do contato dos deuses com o ser humano. Então ele pensou um pouco mais e inventou uma coisa chamada leitura. E disse:


– Muito bem, agora o ser humano já pode se comunicar por escrito, mas não basta se comunicar por escrito.


Aí ele inventou uma coisa chamada oratória. Que é a capacidade de expressão através da palavra falada. Então ele passou a ser esse deus com a incumbência de trazer para o ser humano e ensinar esse processo mediante o qual ele pudesse estabelecer contato com o divino e se comunicarem, uns com os outros, expressando principalmente o conhecimento que vinha do nível divino.


Só que Tot, muito empenhado na missão que o pai lhe dera, passou a inventar outras coisas, criou para a humanidade a Ciência do Conhecimento. Criou a Geometria, a Matemática, a Botânica, e outra série de disciplinas, pensando como deus responsável pela Comunicação. Por isso ele é o deus patrono dos comunicadores.


Só que esse Tot era muito complexo. Por ser um deus, era muito mais que um ser humano, com muitas qualidades e virtudes. Ele tinha a qualidade de fazer com que a comunicação se tornasse inteligível para todo mundo e era por isso, ligado ao sol; e o pai era o deus-sol. Então o sol está ligado à luz, tinha a capacidade ver e de iluminar. Por isso ele está ligado aos processos de aprendizagem e aos processos de aquisição do conhecimento. Ele é também um educador, além de um comunicador. Só que a luz a que ele se liga, vem da Lua que só surge à noite. O contato com a lua tem a ver com a capacidade de estabelecer contato com o que é subterrâneo, o que está oculto. Por causa disso, Tot tinha outra missão muito importante: toda vez que alguém morria, o coração do morto era levado à presença dele que o colocava numa balança para medir se os atos praticados por aquele ser em vida, eram atos meritórios, ou condenáveis. Se fossem meritórios aquele ser podia seguir adiante. Se não seria submetidos às punições decorrentes de seus atos de acordo com a mitologia egípcia.


E com que ele comparava o coração? Ele colocava o órgão em um dos pratos da balança e no outro uma pena. Se o coração pesasse mais que uma pena, o indivíduo não ia adiante. Imaginem a cena! O cidadão tinha que ser realmente puro de caráter, de comportamento etc, ou não seguia adiante. Esse era o papel do Tot.
Pois bem, por causa do Tot, surgiram aqueles que são os antecessores de todos nós que nos comunicamos, principalmente aqueles que o fazem por escrito, tem como antepassado distante, o escriba. Ele, na sociedade egípcia, é aquele que escreve. Então, todos nós que escrevemos, que produzimos trabalhos profissionais ou simples cartas, temos um compromisso de agradecer aos escribas que foram criados pelo Tot.
Muito tempo depois, na nossa era Moderna, um filósofo francês, muito interessado na questão da mitologia do Tot, passou a estudar muito profundamente tudo o que se refere a esse deus. Ele descobriu que a palavra grega escritura, ou a habilidade de colocar seus pensamentos e ideias no papel, em grego significa pharmacon.


E ele percebeu que essa palavra pharmacon tem dois sentidos. De um lado ela quer dizer veneno, do outro lado ela quer dizer remédio.


Então agora podemos nos aproximar da questão tema deste evento, comunicação e paz, comunicação e não-violência, comunicação e humanização. O que quer dizer isso pra nós, o que nos importa?


Importa que todos nós que temos a habilidade para nos comunicar, temos um compromisso com o divino. O compromisso de transmitir conteúdos nobres, transformadores. Nós temos o compromisso em transmitir aquilo que traga para a humanidade substância, inspiração, modelos que permitam ao ser humano, manter seu coração puro, de maneira que na hora H, diante de Tot, o seu coração não vá pesar mais que uma pena.


Mas, porque isso? Por que a comunicação, ou processo de estabelecer conexões entre pessoas – não só a comunicação num plano menor, intrapessoal – mas principalmente a comunicação no mundo de hoje, a comunicação coletiva, massificada, industrial. Essa comunicação possui um efeito. Toda mensagem transmitida tem o potencial de produzir um efeito na psique das pessoas. E esse efeito pode ser construtivo, ou destrutivo.


A comunicação pode produzir um efeito inspirador de transformação, construtivo. Mas ela é, como diz a palavra pharmacon, não só um remédio, pode ser também um veneno. A comunicação pode provocar um efeito destrutivo. Um efeito que não traga à saúde humana, elementos de saúde psíquica, elementos de compreensão da realidade de maneira digna. Pode trazer elementos que encurtem ou distorçam a compreensão da realidade afetando a capacidade do ser humano de passar pela vida de uma maneira saudável, harmônica, pacífica.


Portanto, a comunicação tem esses dois lados. E isso foi estudado de maneira bem abalizada principalmente pela área da Sociologia e a área da Psicologia Social. Em um desses estudos feitos aqui mesmo no Brasil, na USP, por um psicólogo dos anos 1970, da linha da psicologia social chamado Dante Moreira Leite. Ele se dedicou muito a estudar os efeitos da Comunicação sobre a psique e encontrou esses dois efeitos potenciais que a comunicação pode provocar. O efeito que gera uma situação destrutiva e o efeito que gera uma atitude construtiva.


O que é o efeito destrutivo? É quando você assiste um filme, por exemplo. E a história do filme é de cunho amargo, negativista, que apresenta um problema e não se vê qualquer solução. Uma história em que os personagens vão enfrentar os dramas da vida, que os leva a um beco sem saída. Então acontecem coisas desse tipo: ano passado em julho, nos EUA, houve a estréia de um filme, Batman – o cavaleiro das trevas ressurge. No dia da estréia desse filme em uma cidade no interior dos EUA, próximo a Denver, que é uma grande metrópole no Colorado, um sujeito psicopata entra na sala do cinema vestido com a máscara do vilão do filme e puxa uma arma de fogo. O resultado: 14 pessoas mortas e cinqüenta feridas.
O que é isso? Qual a conexão? Vocês podem dizer, “mas ele era um psicopata!”.


Sim. Ele era um psicopata. Mas a doença psicológica que existe na sociedade, pode ser deflagrada por processos que navegam por esse oceano de conexões com que todos nós alimentamos, chamado inconsciente coletivo. E um dos elementos que alimentam esse inconsciente coletivo é a comunicação de massa.


Agora vejam, se a comunicação de massa tem excesso de conteúdos negativos circulando o tempo todo, sendo que esse conteúdo nocivo não fica limitado a uma hora em que você está se divertindo no cinema – se é que pode se chamar de diversão um filme em que as pessoas estão se matando e o enredo reproduz o que há de mais cruel e mais podre da alma humana. A comunicação de massa, ao exagerar no excesso de conteúdos negativos, pode estar contribuindo para que determinadas pessoas com algum desequilíbrio, ao tomar contato com mensagens com essa leitura negativista e destrutiva, tenham deflagrados processos que levem a uma atitude terrível como essa.


O caso do filme do Batman, como puderam acompanhar nos jornais, não é um caso isolado. Tem sido freqüente noticias desse tipo não só nos EUA como no Brasil e em outros países. Trata-se de uma manifestação fruto de uma indústria cultural e de uma comunicação de massa voltada para o consumo, cujo foco é exagerado nas questões negativas. Portanto, esse excesso de conteúdo negativista, acaba sendo uma contribuição para o crescimento desse lixo no inconsciente coletivo. Porque por trás de toda comunicação, por trás de toda mensagem, todo conteúdo que é colocado está associada a uma visão de mundo a uma maneira de compreensão da realidade.


E qual é a visão de mundo que estas mensagens negativistas transmitem? Uma visão de mundo de uma limitação muito grande de percepção e compreensão do que é a realidade e do que é a vida. Uma visão de mundo onde não há valores ou há valores deturpados. Quando falamos aqui dentro de valores humanos, estamos nos referindo àqueles valores nobres, transcendentes do tempo e do espaço, que a Humanidade ajuda a cultivar. Mas quais são os valores, entre aspas, trabalhados e navegados pela comunicação de massa a maior parte do tempo? Valores de uma limitação de compreensão do ser humano. Peguem as telenovelas, nada contra elas, não há nada de errado com elas, a questão é que em sua grande maioria, veiculam uma visão de mundo muito reduzida que remetem às questões mais sombrias do ser humano e aos aspectos menos desenvolvidos da alma humana. Se pegarmos uma telenovela da Globo, aspas, quais são os valores estão sendo retratados? A inveja, a canalhice, a mesquinharia, a crueldade, a competição exagerada e doentia, a desvalorização dos seres. Então, vejam bem, quando esses conteúdos são transmitidos pela comunicação de massa de maneira ostensiva, o tempo todo, especialmente sob esse ângulo de leitura, acaba causando no inconsciente coletivo, a formação de uma verdade também distorcida. Que a vida é só isso, que é só corrupção, só maldade. Que a vida é só crueldade, só dinheiro a todo custo, ou que a vida não tem valor, não tem sentido e que o ser humano é apenas uma máquina. Ao se deteriorar essa máquina, ela pode e é substituída.


Essa é a visão de mundo passada pela mídia de massa de maneira gratuita, que ajuda a constituir na população uma perspectiva de realidade também reduzida, limitada e negativista. E o que é pior, principalmente a um público: os jovens. O cidadão jovem está ainda formando a sua personalidade. A sua psique está se fortalecendo e se o contato que ele tem com o mundo que nós adultos criamos e geramos é através desses conteúdos negativistas, que visão de mundo esse jovem ser vai gerar?


Que possibilidade de agir na realidade, no mundo, de maneira mais sadia ele pode ter, se o mundo que lhe é passado é esse.


Fizeram uma pesquisa nos EUA, um grupo também preocupado com essa relação entre a comunicação e massa e a violência. O grupo estudou quantas horas por dia, em média, uma criança e um adolescente americano ficam diante da televisão. Como nos EUA quase ninguém tem empregada doméstica, e todo mundo precisa trabalhar porque a vida é muito dura, a criança na volta da escola fica sozinha em casa, não há ninguém para olha-la. O que faz a criança? Liga a televisão.


E aí fizeram essa estatística de quantas horas por dia a criança e o jovem norte-americanos ficam diante da televisão. E fizeram também uma contagem, dentro desse período, que é um número absurdo de tempo, de quantas cenas de crueldade humana, assassinato, maldade, catástrofe, tragédia, elas assistem. E quanto tempo elas assistem de ações produtivas, benéficas. Aí vocês podem imaginar a proporção de conteúdo negativo a que ela é exposta. Daí não é de se estranhar que isso, mais outros fatores de outros campos, ao se deparar com um processo psíquico doentio de um ser, não é de estranhar que um jovem vá à escola com o rifle do pai e abra fogo na sala de aula e mate 10, 12, não sei quantos. E isso não acontece uma vez a cada 50 anos. Isso vem acontecendo repetidas vezes. Especialmente na sociedade americana.


Por que? Porque a comunicação, principalmente a comunicação de massa, numa boa parte, infelizmente está muito viciada e limitada por essa, aspas, competição de realidade reducionista. Então, em vez de a comunicação estar sendo trabalhada naquela polaridade do “remédio”, está se voltando para o lado oposto, do “veneno”. Gerando uma situação psíquica, coletiva, que predispõe a atos destrutivos.


Quando falamos de paz e não-violência, eu acredito que a questão da paz, da serenidade entre outros, só pode ser conversada, se nós considerarmos a ligação dela, com outros temas. Que outros temas são esses? O tema da autoidentidade, da consciência, da evolução e da divindade. Nós estamos neste planeta, vivendo aqui nesta existência, com várias missões e várias tarefas a cumprir e vários aprendizados. Mas um aprendizado, uma vivência especial que parece ser comum a todo ser humano, é a questão da possibilidade da evolução da consciência. Consciência é muito difícil de definir, mas vamos simplificar aqui para nós, como consciência sendo igual ao autoconhecimento e ao conhecimento da realidade externa do mundo. É a noção do que você é, do que você faz nessa existência e qual é o processo que está por trás de sua vida.


A consciência tem vários graus e a vida nos impele, ao longo da existência, em direção a um aumento gradativo nesse grau de consciência que, por conseqüência vai se tornando cada vez mais sofisticado. A comunicação de massa pode estar a serviço da evolução da consciência, à conquista de uma visão cada vez mais ampla, mais perfeita de quem você é, de como é o mundo, de qual seu papel aqui dentro. Ou ela pode estar a serviço de manter essa possibilidade de evolução em um nível muito reduzido quando não num nível de involução. Então quando olhamos esse comportamento negativista da comunicação, vemos a manifestação de processos que estão produzindo, não a evolução da consciência, mas o aprisionamento da consciência humana num patamar muito reduzido de entendimento. Se essa inconsciência se manifesta por muito tempo, no lugar de termos uma evolução, tem-se uma redução, uma involução.
Agora veja bem, o problema é que a nossa sociedade graças ao desenvolvimento em outras áreas, a civilização cresceu muito em várias frentes, mas muito pouco na área do autoconhecimento. E menos ainda na área da evolução consciente. A nossa sociedade gerou processos que são altamente destrutivos.


Por exemplo, há pouco saiu na imprensa uma discussão de um assunto muito importante. A possibilidade da extinção das abelhas no planeta. Há muita gente preocupada com esse assunto, pois as abelhas estão morrendo em quantidade muito maior que a renovação da espécie consegue repor. A abelha possui um papel fundamental na polinização da maioria dos alimentos que consumimos. Abacate, por exemplo. Noventa por cento do nascimento e crescimento do abacate se deve à abelha. Castanhas de todos os tipos. Uma infinidade de alimentos que necessitam do trabalho das abelhas e elas estão acabando no planeta. Se isso acontecer, uma grande quantidade de alimentos que prescindem das abelhas vão deixar de existir. Desaparecendo estes alimentos da face da Terra, o que acontece com a nossa alimentação se a grande maioria depende do trabalho as abelhas?


Agora, porque as abelhas estão desaparecendo? A primeira hipótese dos cientistas que estão estudando isso é que elas estão desaparecendo por causa dos inseticidas. Os inseticidas que são colocados para proteger as plantas, contaminam-nas e a abelhinha vai lá colher o pólen da flor e se envenena. Infelizmente, parece que recentemente, a tecnologia criou um inseticida mais pavoroso que os anteriores. Que aparentemente resolveu o problema dos agricultores, mas acelerou o processo de contaminação deletéria das abelhas.


Por que o homem cria estes produtos que são nocivos e autodestrutivos? Por falta de consciência, por falta de compreensão da conexão complexa, delicada, sensível, entre tudo que existe neste planeta. Por ter criado uma civilização baseada em um foco limitado de compreensão do real, pelo baixo nível de consciência. Por causa disso, produz criações tecnológicas, julgando que está fazendo uma coisa muito bonita e bacana, no entanto, por ignorância e miopia da compreensão sutil entre tudo o que existe, acaba provocando os efeitos deletérios dessa magnitude.
Então hoje a humanidade sofre com uma questão chave, que é a possibilidade da autoextinção da espécie humana, por conta dessa inconsciência com relação à realidade. Inconsciência do que nós somos, enquanto indivíduos, enquanto povo, o que é este planeta, qual a interação entre todos e a natureza, e de que modo nós devemos tratar dessa relação de uma maneira saudável e salutar.
Então pra mim a paz tem a ver com esses temas associados. E a comunicação, em lugar de estar se abrindo para estes temas e trazendo-os à luz da discussão, na maior parte do tempo fica limitada por aquela visão de mundo destrutiva, a mesma que levou a esta situação que é quase um beco sem saída do nosso planeta.


Mas eu não quero que a nossa conversa tenha uma conotação muito pessimista e negativa. Porque felizmente na comunicação já há algumas iniciativas, com um conhecimento mais aprofundado em que comunicadores estão trabalhando ativamente para que a sua comunicação seja capaz de trazer uma contribuição para a humanidade de provocar um efeito construtivo e não destrutivo. O que a comunicação tem nas mãos para fazer, para eliminar essa questão da autodestruição ou simplesmente do pensamento negativo? Ela tem o poder de contar situações em que pessoas intuitivamente ou não estão tomando para ter uma vida diferente. Então o processo de comunicação e da produção de efeito, passa muito pelo exemplo, pelo modelo, pela inspiração.


Assim, muitos comunicadores e muitas iniciativas de comunicação, estão saindo desse patamar muito negativista e estão produzindo ações que sejam capazes de mobilizara sensibilidade humana para uma outra visão de realidade, para uma outra atitude. E isso está acontecendo em várias frentes. Embora ainda predomine na comunicação, por ignorância, miopia, ou simples má vontade essa postura mais negativista, já há casos muito interessantes também do contrário. Gente que trabalha para produzir uma comunicação que seja capaz de trazer uma verdadeira contribuição para a humanidade, e que seja capaz de honrar o predicado de Tot, lembrem-se, quem é o comunicador? Ele é o mensageiro dos deuses!


Olha só que importante. Ele tem a capacidade de ler o mundo sutil como divino e de traduzir isso para o ser humano! Ele é capaz e levar o conteúdo humano para o divino, veja só que missão nobre.


Então, que exemplos nós temos na sociedade de hoje de uma comunicação mais saudável? Vocês vão encontrar isso, às vezes, onde não esperariam. Por exemplo, no cinema de Hollywood.


Bem, mas vocês podem pensar, o cinema de Hollywood é só consumo, é só grana, é só interesses mundanos. Porém, alguns gênios da indústria cinematográfica, da arte narrativa do cinema, muito conscientes desse outro lado, aproveitam as regras de Hollywood, para dentro daquilo, colocar um recado para a humanidade. Eu convido todos vocês que estão nesta sala, nos próximos dias, alugarem um filme antigo, um filme de diversão. Um filme do grande gênio do cinema Steven Spielberg. E verem um filme dele que se chama Indiana Jones e a Última Cruzada. Quem já assistiu, vai gostar de rever com essa nova leitura.


O que é este filme? No mínimo, um filme de diversão, de aventura como outro qualquer. No outro nível o que fez o Spielberg? O que ele colocou para o nosso inconsciente? O que ele colocou, não para o seu intelecto ou para a sua emoção mais rasa, mas para o seu coração, para a sua emoção mais profunda, para a sua alma? Ele colocou a seguinte história: o Indiana Jones, como vocês sabem, é um professor de Arqueologia, um pacato professor de arqueologia. Ele tem um pai, que é um professor mais velho, ligado à literatura medieval, e esse pai encontra um caderninho que falava sobre uma coisa do passado que é a lenda do Santo Graal. Segundo a lenda do Santo Graal,quando Cristo morreu, ele foi levado para a cruz para ficar ali, falecendo aos poucos. Um grande servo que ele tinha, um grande admirador e que era um homem da elite social da época, consegue corromper os guardas e ser transferido para onde está o corpo de Cristo. E numa taça ele recolhe o sangue de Cristo. E ele esconde essa taça. Diz a lenda que seria a mesma taça usada por Cristo, na Santa Ceia, na última ceia com os discípulos.
E essa taça é então, passada de geração a geração etc etc. E ai se cria a lenda de que quem descobrisse o Santo Graal teria a vida eterna. Muito bem! No filme, o pai de Indiana tem um caderninho que sugere um caminho para se descobrir o Santo Graal. Como ele é um estudioso dessas coisas, obviamente vai atrás, só que ele desaparece. Ao desaparecer, pra simplificar tudo, o Indiana filho, que é o herói da história, se mete na aventura para ir resgatar o pai. Lá pelas tantas ele encontra o pai e ambos vão atrás do Santo Graal. Infelizmente, não são só eles que estão atrás do Santo Graal, os nazistas também estão. Por que? Os nazistas querem o Santo Graal, por causa da lenda. Eles querem a vida eterna, para dominar o mundo. Para piorar, não são só os nazistas que interpõem entre o Indiana Jones e o cálice, há ainda outro vilão na história, um empresário, interessado em ter a vida eterna para si. Todos que estão atrás do cálice chegam juntos ao Santo Graal. Não vou contar tudo para não tirar a graça de quem ainda não viu o filme.


Pois bem, quando eles chegam ao Santo Graal há uma prova suprema. Só aquele que tem o coração de pena, o coração leve é que vai conseguir entender o sentido da prova e vai acertar. Mas então o que é o filme? A busca pelo Santo Graal. E o que acontece com o Indiana Jones? Ele descobre o Santo Graal, mas ele não fica com o cálice. Então o que é o Santo Graal? É o divino em todos nós. É algo para se conquistar, não no mundo externo, mas dentro de cada um. Todos nós somos filhos de uma consciência e de uma inteligência absurdamente extraordinária, amorosamente formidável e notável, que gerou tudo isso que existe. Se você é religioso, se você é budista, se você é cristão, se você é muçulmano, se você é xintoísta, seja qual for a sua crença, se você tem um caminho religioso que trabalha com estes assuntos, esse caminho pelo qual você se identifica, é capaz de levar você ao contato, com a consciência desse divino instalado em você.


Mas se você não está ligado à nenhuma religião, mas é sincero na busca, através da contemplação da natureza e do amar a natureza, você também vai chegar lá, pois o divino é a fonte de tudo. O divino, quer você queira ou não, está aqui e está esperando que você descubra dentro de si a manifestação dele. E ele está aqui para quê? Para que você passe a agir no mundo, não como alguém isolado dessa realidade, mas para que você conte com o seu divino como seu parceiro e seu aliado, nas ações que você tem a fazer no mundo. Aí se você estabelece sintonia com esse divino, você encontra a paz. Porque o que é a não-paz? A não-paz não é só guerra, guerra é um efeito. A não-paz é a ignorância; é a falta de conhecimento de si; é o medo; é a falta de noção de que você já tem tudo o que você precisa nessa existência se você se coloca em sintonia com o divino; é a falta de noção de que você é filho do amor, você existe porque houve uma sincronicidade amorosa e infinita do divino que gerou a sua possibilidade de existir. Você é filho do amor e do divino porque tudo o que o cerca e o envolve foi preparado muito antes de você, possibilita que você faça contato com esse poder, com essa energia e com essa amorosidade permanente e contínua desde que você esteja aberto e disponível para estabelecer contato com ela.


Então em últimas palavras, é nessa direção que se pode trabalhar na comunicação. Não a comunicação que fica restrita ao lado menos nobre, e mais reducionista da espécie humana. Nós precisamos juntos co-criar uma nova realidade, e essa criação passa pelo trabalho do comunicador que é aquele com possibilidade mais sustentável e contínua, de influenciar. Passa pelo caminho daquele comunicador que busca a estabilidade dentro de si, e encontra, portanto, a paz dentro de si. Que é capaz de expressar para o mundo, com olhar e a possibilidade, abertos para a manifestação do divino que está presente à nossa frente, no dia a dia, o tempo todo. Então no lugar de o seu olhar estar preso àquilo que destrói, e que mostra à humanidade uma visão distorcida e limitada da realidade, você pode estar com a sua sensibilidade sintonizada com o divino, aqui, agora e o tempo todo.
Ser o comunicador que vai mostrar a realidade humana da favela de uma maneira nobre; que vai trazer dignidade ao ser humano por contar a história dele de uma maneira humana; aquele que não vai ficar limitado às bobagens das celebridades, aos comportamentos estranhos, excêntricos; mas vai tocar na manifestação dos valores humanos mais amorosos no dia a dia. Que enxerga a pessoa anônima, o ato compassivo, o gesto nobre...


Ele vai contar essas histórias e quebrar a estranheza que nós temos para com tudo a que não estamos acostumados. Quando o comunicador está fazendo isso, ele está contribuindo para que nós tenhamos uma observação mais acurada da realidade da vida, que tenhamos mais gotinhas de inspiração para o direcionamento do nosso olhar, para aquilo que nós queremos e precisamos dar: buscar e reencontrar o divino em tudo e em nós próprios. Muito Obrigado!

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