Infância feliz: ideal de todo educador
É senso comum que toda criança tem o direito de errar, acertar; ousar; experimentar; fazer, refazer, desfazer; sonhar e imaginar; conhecer e arriscar; amar e ser amada. Mas a pergunta é: como deixá-la realizar tudo isso sem que a coloquemos em risco iminente? Em um mundo tão caótico em que ameaças se avizinham a cada penumbra, em cada canto, a cada esquina, as incógnitas multiplicam-se diariamente. Na maior parte das vezes, nos esquecemos da alegria que os pequenos êxitos da infância nos proporcionavam e só lembramos dos dissabores, temores e rancores e tendemos a colocá-las em redomas cada vez mais impenetráveis. E a pergunta que fica é: até que ponto tal atitude é benéfica?
O presidente da SGI, dr. Daisaku Ikeda, no ensaio intitulado Crianças de Vidro, explana sobre esse ponto: “Enquanto pequena, a criança é constantemente mimada pelos pais que a deixam fazer o que quiser. Depois, de repente, faz-se um esforço súbito e frenético para ensiná-la a tomar cuidado. A essa altura é tarde demais. Uma criança nunca criará um sentido de autoconfiança em tais circunstâncias”.
Já a pedagoga e mestre em Educação Rosa Maria da Cruz Braga, em seu ensaio Olhares sobre a Infância ressalta que: “A beleza, alegria, desprendimento, ingenuidade da Infância estão sendo ofuscadas pela negligência social e familiar, maus tratos, violência de toda ordem, excluindo as crianças de viver com dignidade, sendo desrespeitada em seus direitos fundamentais”.
Ikeda concorda com essa ideia e enfatiza: “A palavra japonesa para Educação é kyoiku. O sufixo Iku quer dizer ‘criar’. Na primavera plantam-se sementes e, dessas, crescem plantas. Os homens tiram as ervas daninhas e dão fertilizantes a essas plantas. Mas são as próprias plantas que retiram o fertilizante do solo. Criar plantas significa protegê-las e a seus arredores de modo a poderem por si mesmas se erguer e tornarem-se autoconfiantes. E, por fim, o prefixo Kyo significa ‘ensinar’, ou seja, ensinar e criar autoconfiança”.
A infância é a fase em que as principais características de caráter e personalidade são determinadas e constituídas, a partir das experiências, boas e más. Cabe aos adultos proporcionar os meios para que estas crianças obtenham o máximo de cada experiência de forma que ela obtenha, por seus próprios méritos, a autoconfiança.
O psiquiatra e psicoterapeuta, Augusto Cury, conta um episódio interessante acerca das experiências:
Este exemplo demonstra a importância que a infância – fase tão breve da vida! – tem em decisões e impasses futuros. Ikeda ressalta que “embora pequenas, as crianças têm um enorme potencial para absorver as coisas (..) estão interessadas em qualquer coisa. Seu interesse é indiscriminado”. Os adultos que as cercam podem reagir a essas demonstrações de interesse de inúmeras formas. Podem escutar cuidadosamente ou revelar indiferença; podem estimular ou reprimi-los. As escolhas certas resultarão em crianças mais ou menos confiantes em si mesmas.
O humanista Ikeda salienta ainda que, para despertar a vitalidade de uma criança, é preciso desencavar os botões de seu talento e nutri-los ao sol, de forma a criá-la em um ambiente cheio de interesse e desafio, de sorte que possa aprender e avançar por si mesma. E esse é o grande desafio do educador do século XXI.