Foto de Daisaku Ikeda: primavera
"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la... e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega". Cecília Meireles (do livro Cecília Meireles – Obra em Prosa, Editora Nova Fronteira)
Como diz a poeta nos versos acima, “a primavera chegará”, mesmo que ninguém se dê conta, nem lhe reserve qualquer deferência ou celebração. Eis aí um princípio imutável do universo. Preparar-se para a primavera que chega é mais do que enfeitar-se de flores e cores é, acima de tudo, renascer, revigorar-se, reinventar-se. Não há momento mais propício para isso que a primavera. A palavra origina-se de primo vere, que quer dizer princípio da boa estação.
Recriar-se. Este é o principal significado da estação mais bela e mais esperada do ano. Não somente devido às temperaturas mais amenas e do desabrochar das flores, a Primavera é um símbolo. A filosofia humanista do budismo Nitiren coloca que celebrar a primavera, significa ultrapassar os rigores do inverno. Analogamente, a conquista da felicidade absoluta nada mais é do que uma luta da transformação do carma e da superação de inúmeros desafios. As provações do rigor do inverno são necessárias para se alcançar uma brilhante primavera com base na filosofia humanista.
O inverno se transforma em primavera, não em outono. Trata-se de um princípio básico da natureza. Do mesmo modo, aqueles que devotam-se à filosofia humanística do budismo Nitiren buscam aprimorar-se constantemente, com o propósito de tornarem-se seres humanos melhores, imbuídos da missão de propagar a harmonia e a cultura de paz para toda a sociedade.
Simbiose
O ceramista concentra-se, posta as mãos em oração e pede permissão à mãe Terra. Em reverência, ele promete que fará bom uso daquele naco do planeta e, sem pressa, encerra o breve ritual. Com a experiência de quem faz isso há muitas décadas, finca a pá no chão lamacento à beira do curso d’água e as mãos rudes e sábias, acostumadas à lida com terra, recolhem uma quantidade precisa de argila. Sua dedicação e respeito à terra – matéria-prima de seu trabalho – são exemplo de sua busca por uma relação simbiótica com o planeta.
A breve descrição acima é somente uma pequena parte dos diversos processos realizados pelos ceramistas japoneses há milhares de anos. Sua técnica e excelência advém de um profundo entendimento sobre a boa utilização de sua arte a partir de uma matéria-prima que consideram “viva”: a argila. Tal respeito perpassa obrigatoriamente pela perfeita simbiose com a mãe Terra.
Seu exemplo serve para ilustrar aquilo que a civilização ocidental vem se distanciando e cuja conseqüência é a degradação do meio ambiente em que vive, ocasionando desequilíbrio em todas as esferas possíveis.
A SGI, desde a sua fundação em 1975, vem incentivando seus integrantes a buscarem seus objetivos em comunhão com o planeta. Isso significa estar sempre imbuído do sentimento de “primavera humana”, ou seja, reinventar-se, renovar-se, estar pronto para renascer, sempre. “Agora, a Soka Gakkai está entrando numa emocionante era dos jovens, uma primavera de pessoas capazes, de VALORES HUMANOS legítimos”, ressalta o presidente da SGI, Daisaku Ikeda.
E este sentimento passa necessariamente pelo empoderamento, ou a “a fé na certeza de que toda pessoa possui um potencial infinito: a capacidade de dar luz à sua dignidade. “Despertar para essa grandeza da condição humana acende a chama da esperança na vida de quem está perdido na angústia. Essa pessoa, por sua vez, tem o poder de inflamar a esperança no outro. O impulso resultante da renovação tem o poder de afastar a tenebrosa confusão que envolve a sociedade”, elucida Ikeda em sua proposta de paz de 2012.
E esse “despertar” é compreender que o que torna grandiosa a alegria da primavera é justamente o rigor do inverno que a precede. “Metaforicamente, as pessoas precisam de cordas seguras ligando coração a coração e dos ganchos do encorajamento para que continuem sua escalada pelos íngremes caminhos da vida. Somente quando superamos as provações do inverno por meio do poder da fé conseguimos desfrutar a primavera de triunfo”, enfatiza o presidente da SGI neste mesmo texto.
Ao resistir e superar quaisquer dificuldade do “inverno” descobre-se a vitoriosa “primavera”, que só advém a partir da intensidade e paixão com que desafia-se o rigor do “inverno”, na sabedoria que se manifesta nesses períodos, e em quão significativamente vive-se cada instante com a convicção de que a “primavera” chegará sem falta.
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